
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: PRATICANDO A PEDAGOGIA DOS 3 R’s
Estamos enfrentando graves problemas ambientais, em resposta às atividades humanas ao longo dos anos, decorrentes “de uma ordem econômica mundial, caracterizada pela produção e consumo sempre crescentes, o que esgota e contamina nossos recursos naturais, além de criar e perpetuar desigualdades gritantes”. Com o objetivo de [...]
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: PARATICANDO A PEDAGOGIA DOS 3 R’s.
Nathália Carina dos Santos Silva¹, Eni Carvalho Alves dos Santos¹, Patrícia Domingos²
¹ Licenciadas em Ciências Biológicas, Escola de Ciências da Saúde, Campus Duque de Caxias, UNIGRANRIO. E-mail: nathaliacarina@yahoo.com.br
² Professora Doutora da Escola de Ciências da Saúde, Campus Duque de Caxias, UNIGRANRIO.
Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO). Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 - 25 de Agosto - Duque de Caxias – RJ. CEP: 25071-202
Estamos enfrentando graves problemas ambientais, em resposta às atividades humanas ao longo dos anos. O Fórum Global de 1992 e Agenda 21 ressaltam: “Os mais sérios problemas globais de desenvolvimento e meio ambiente que o mundo enfrenta decorrem de uma ordem econômica mundial, caracterizada pela produção e consumo sempre crescentes, o que esgota e contamina nossos recursos naturais, além de criar e perpetuar desigualdades gritantes” (NAÇÕES UNIDAS, 1997).
Os anos 20 marcaram o início da explosão no consumo. A sociedade sofreu uma metamorfose da cultura produtora para a cultura do consumo, onde desempenhar o papel de consumidor passou a ser regra, não formalmente declarada. Essa transformação pode estar associada à propagação do crédito ao consumidor, à criação das lojas de departamento, à venda por correspondência e à redução da jornada de trabalho. Além disso, o aumento do consumo está intimamente relacionado com a formação do campo publicitário, que desfaz a idéia de que as compras correspondem a necessidades práticas. “A promessa da publicidade para cada indivíduo é escapar à condição comum, tornando-se um privilegiado que pode oferecer a si mesmo um novo bem, mais raro, melhor, mais distinto” (DIAS & MOURA, 2007).
As embalagens, que no inicio eram destinadas à proteção do produto, hoje adquiriram o papel de estimularem o consumo, e os descartáveis ocupam o lugar dos bens duráveis e retornáveis. O resultado é um planeta com menos recursos naturais e com mais lixo. Somos invadidos a todo o momento pelo desejo de consumir mais e mais supérfluos, e que, rapidamente viram lixo. Além de poluição, lixo também significa muito desperdício de recursos naturais e energéticos para produzir “bens” de consumo (ABREU, 2001). Com o objetivo de amenizar os impactos ambientais causados pela atuação antrópica, principalmente através da exploração desenfreada dos recursos naturais, surgem algumas propostas de superação desta lógica consumista e de geração de lucro a qualquer custo, destacando-se a proposição do chamado desenvolvimento sustentável, ou seja, uma ação mais consciente e responsável do ser humano no planeta. Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem suas necessidades (ONU, 1991). Para alcançar esse objetivo deve haver um esforço das sociedades e governos de todo o mundo para a obtenção de recursos naturais da Terra sem desgastá-la ou poluí-la demais, combater o desperdício, promover a reciclagem de materiais aproveitáveis e o uso de fontes alternativas de energia e, principalmente, reduzir o consumo (CORDEIRO, 2008). Mininni-medina (1997) afirma que “o sucesso do desenvolvimento sustentável vai depender do empenho político e da participação da sociedade, visto que o novo conceito de preservação não significa que a natureza seja intocável, mas que o ser humano saiba utilizar os recursos naturais de forma adequada e tenha consciência de que eles são esgotáveis.”
Deve-se buscar em cada consumidor o verdadeiro cidadão, comprometido com preocupações coletivas mesmo em seus espaços privados. Consumo e cidadania devem ser compreendidos de forma conjunta e inseparável, reconhecendo que ao se consumir se pensa, ou seja, se escolhe e se reelabora o sentido social, constituindo-se uma nova maneira de ser cidadão (CANCLINI, 1996; EIGENHEER, 1993).
Leff (2001), fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas, sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos. O principal meio para promover a mudança de pensamentos e de atitudes é através da Educação Ambiental, seja ela em âmbito formal ou não formal.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A Educação Ambiental surge a partir das preocupações da sociedade com o futuro e com a qualidade de vida das presentes e futuras gerações, sendo considerada uma alternativa que visa construir novas maneiras das pessoas se relacionarem com o meio ambiente (CARVALHO, 2004). Segundo a conferencia de Tbilisi (Georgia/URSS-1977) meio ambiente é definido como “o conjunto de sistemas naturais e sociais em que vivem os homens e os demais organismos e de onde obtêm sua subsistência”. Dessa maneira a educação ambiental torna-se um exercício de cidadania, com o objetivo de desenvolver uma consciência crítica nas pessoas. Assim, devem ser abordadas problemáticas ambientais que se interrelacionem com os aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais, científicos, tecnológicos, ecológicos, legais e éticos (OLIVEIRA, 2006). A Educação Ambiental pode ser realizada no âmbito formal, ou seja, onde os projetos são voltados para inserção das questões socioambientais nos currículos escolares, ou não-formal, que resulta na aplicação de projetos voltados para a sociedade civil, envolvendo instituições como ONGs e Áreas de Proteção Ambiental (Parques Naturais, por exemplo). Na educação formal há uma forte tendência em se associar a educação ambiental ao ensino ou à defesa da ecologia, além disso, costuma-se considerá-la como um conteúdo interligado às ciências físicas e biológicas, sendo trabalhada num enfoque essencialmente naturalista. Por outro lado, muitas vezes, é organizada apenas como atividade enriquecedora de currículo, representada por atividades como campanhas, seminários e excursões, onde as atividades são dissociadas dos conteúdos básicos do programa escolar (OLIVEIRA, 2006). Entretanto, a Educação Ambiental não deve ser tratada simplesmente como ensino do mundo natural e nem pontualmente através de atividades paralelas ao currículo escolar, ela deve ser tratada de forma interdisciplinar (DÍAZ, 2002). Segundo o Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global “(...) a Educação Ambiental deve basear-se num pensamento crítico e inovador; ter como propósito formar cidadãos com consciência local e planetária; ser um ato político, baseado em valores para transformação social; envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar; e deve estimular a solidariedade, o respeito aos direitos humanos e a equidade” (BRASIL, 2001 apud SILVA, 2007). Uma das principais dificuldades de se trabalhar de maneira interdisciplinar a Educação Ambiental, está relacionada com a complexidade da problemática ambiental. É nesse cenário que se fundamenta a não criação de uma disciplina que trate das questões ambientais na educação formal, já que a mesma trata de fenômenos que abordam diferentes ciências. Sendo assim, uma das estratégias possíveis é o trabalho com situações – desafio no espaço escolar. Caracterizado por ser um trabalho de conquista, que exige clareza de definições e resultados concretos (OLIVEIRA, 2006). Nesse contexto, este trabalho reflete a aplicação de um projeto, que aborda o consumo de papel oficio nas escolas, ou seja, a relação consumo/desperdício no âmbito formal da Educação Ambiental e suas conseqüências ambientais e socioeconômicas, através da Pedagogia dos 3 R’s.
O CONSUMO DE PAPEL E A PEDAGOGIA DOS 3 R’s
A discussão sobre o uso e reuso de papel nas escolas é uma excelente estratégia para o trabalho com o tema consumo/desperdício. Sabe-se que é um local com alto índice de consumo deste material, tanto por professores quanto por alunos e, conseqüentemente, há uma grande geração de resíduos deste material. Nos aterros, quando não há contato suficiente com o ar e a água, o papel se degrada lentamente. Nos Estados Unidos foram encontrados em aterros jornais da década de 50 ainda em condição de serem lidos (CEMPRE, 2009).
Cerca de 95% dos papéis é feito a partir do tronco de árvores cultivadas. No Brasil o Eucalipto é o mais utilizado. Para produzir uma tonelada de papel são utilizadas aproximadamente 20 árvores. Além disso, a indústria de papel é muito poluente, pois utiliza grande quantidade de produtos químicos principalmente para o clareamento da massa, gerando contaminação da água utilizada nos processos de lavagem (CIÊNCIA A MÃO, 2009). Nas escolas há pouco incentivo para diminuição da utilização de papéis, sendo desperdiçados grandes números. É necessária uma conscientização plena envolvendo os alunos para contribuírem com a diminuição do consumo de papéis, pois para cada tonelada de papel poupado significa deixar de serem cortados grandes números de eucaliptos e pinos. Toda vez que se reutiliza um material, e, portanto reduz-se uma etapa industrial estamos reduzindo consumo de energia e o lançamento de resíduos da etapa industrial. Dentro da Educação Ambiental, uma das formas de se enfocar a diminuição do consumo e da geração de lixo que se instalou no mundo nos últimos anos é através da pedagogia do 3R’s. Segundo as resoluções da Agenda 21 de 1992, o princípio dos “3R’s” é apontado como a solução ou minimização dos problemas relacionados aos resíduos sólidos; redução ao mínimo dos resíduos; aumento ao máximo da reutilização e reciclagem ambientalmente saudáveis dos resíduos (AGENDA 21, 1996). Nesta concepção, cada um dos R’s representa uma mudança de postura em relação ao consumo, sendo o primeiro – Reduzir – o que representa o principal foco desta pedagogia, pois enfatiza a redução do consumo. Dos 3R’s este é o mais difícil de ser realizado, pois exige um alto grau de consciência; o segundo – Reutilizar - propõe a reutilização dos mesmos objetos, antes de descartar ou reciclar os produtos, usá-los de uma forma diferente e criativa; e por fim o terceiro – Reciclar – Representa a reinserção do produto no processo produtivo, substituindo matérias-primas virgens, completando seu ciclo quando o produto volta ao mercado. É uma alternativa somente quando não é mais possível reduzir, nem reutilizar (
Grande parte dos programas de educação ambiental acaba destacando a reciclagem em relação aos dois primeiros "erres" (reduzir e reutilizar). Assim, busca-se apenas atender à "consciência ecológica individual", iludida ao acreditar que, consumindo produtos recicláveis, estes serão necessariamente reciclados. Entretanto, como foi observado, os dois primeiros R's (Reduzir e Reutilizar) fazem parte de um processo educativo, que tem por objetivo uma mudança de hábitos no cotidiano dos cidadãos, e devem ser priorizados em relação à reciclagem. A questão-chave é levar o cidadão a repensar seus valores e práticas, reduzindo o consumo exagerado e o desperdício.
Além disso, o processo de reciclagem também resulta em algum tipo de poluição, além de consumir recursos como água e energia. Sendo assim, a reciclagem deve ser entendida como um complemento aos processos de redução e reutilização e não servir para ocultar as causas reais do problema: o desperdício, o incentivo ao consumo desenfreado e o desgaste dos locais de onde são extraídas as matérias-primas (ECOVIVER, 2010).